A percepção do ser humano no decorrer da história em relação à saúde mental é um tema curioso para ser explorado. Assim como diversos temas, este se transformou e se definiu segundo os conceitos e costumes que eram presentes.


É importante lembrarmos o contexto de determinadas práticas, para não arriscarmos cair em anacronismos (atitude ou fato que não corresponde a sua época) e compreensões distorcidas a respeito das condutas e visões propagadas em relação à saúde mental.

A compreensão dos contextos históricos nos ajuda a identificar no presente os sinais de ideias errôneas e já ultrapassadas. Assim, procura-se impedir um futuro em que a saúde mental possa ser negligenciada, e em como identificar o que existe de bom nos diversos períodos da história para mantê-los.


A visão de que a história é uma linha retilínea que sempre está melhorando e que tudo o que passou deve ficar no passado é falsa e perigosa. Tal pensamento pode colocar os cuidados com a saúde mental em sérios perigos.

 

As mudanças no decorrer da história

Partindo dos primeiros registros que possuímos a respeito da saúde mental na antiguidade, via-se nas pessoas com algum tipo de psicopatologia (transtorno mental) uma espécie de “dom”.

Algumas eram consideradas oráculos e mensageiros dos deuses, e apesar de a sociedade temer temor estes “oráculos”, havia também respeito e consideração, conforme o que julgavam ser uma reverência.


Já a idade média foi marcada com a visão de que essas pessoas eram pobres de espírito, dignas de pena e caridade. Viviam vagando pelos feudos. O fato de ficarem vagando gerou o que ficou conhecido como os “andarilhos do bem” – um grupo que acompanhava essas pessoas para que não sofressem nenhum mal e não praticassem nada de errado com os outros.

No final do século XV, as psicopatologias (transtornos mentais) começaram a ser vistas como um problema social e, finalmente, no século XIX, ganha-se os status de ordem psicológica.

 

Advento das psicopatologias

Através do advento das psicopatologias e o entendimento de que havia enfermidades da mente e do cérebro, a humanidade passou a lidar com a saúde mental de um olhar de cuidado e respeito para a confrontação e perseguição generalizada.

Um exemplo bem documentado que temos em nosso país é o livro “Holocausto Brasileiro”, que conta a história do hospital psiquiátrico de Barbacena. Com essa investida contra as pessoas com psicopatologias, atrocidades – não só físicas, mas morais e psicológicas – foram cometidas. Entretanto, podemos expor com mais detalhes a respeito em outro texto.


Com a mudança de paradigmas, podemos ver as consequências desastrosas que isso proporcionou para toda a humanidade. O modo de enxergamos as psicopatologias como algo a ser combatido de forma agressiva, ao invés de enxergarmos as pessoas que estão no sofrimento e proporcionar a melhor ajuda possível, faz com que as doenças só se potencializem no mal sentido do termo.

 

Um exemplo é a depressão que, apesar de termos uma vasta literatura a respeito e ótimos e eficazes tratamentos, ainda é vista por muitas pessoas como uma “frescura” ou qualquer outro termo pejorativo, levando o doente ao desencorajamento para a busca de uma intervenção que o auxilie. A depressão é uma das doenças que mais afetam a população, não só nacional (no Brasil são 11,5 milhões de pessoas (5,8% da população) com o transtorno), como mundial, sendo ela um transtorno mental frequente.

 

Globalmente, mais de 320 milhões de pessoas de todas as idades sofrem com esse transtorno, tornando-a a principal causa de incapacidade em todo o mundo, contribuindo muito para a carga global de outras doenças, acarretando até mesmo ao suicídio. De fato, outra problemática que afeta o ser humano globalmente é o suicídio: mais de 800.000 pessoas morrem por suicídio todos os anos, e a cada 40 segundos uma pessoa atenta contra sua própria vida.

 

O suicídio é a segunda principal causa de morte entre os jovens com idade de 15 a 29 anos. 75% dos suicídios no mundo ocorrem em países de baixa e média renda, tendo entre os métodos mais comuns de executá-lo a ingestão de pesticida, enforcamento e armas de fogo.

 

Mudança de pensamento

É de extrema necessidade mudarmos a visão quanto essas psicopatologias. Precisamos enxergá-las com a seriedade que elas merecem, porque isso leva à busca de profissionais adequados e devidamente formados – sendo eles psicólogos, terapeutas e psicanalistas como meios concretos de ajuda, levando o reconhecimento, sem preconceitos e julgamentos, da necessidade do devido apoio de medicamentos prescritos por psiquiatras. 

O apoio também se dá por meio da promoção de hábitos saudáveis, por meio de exercícios físicos e uma alimentação saudável, com o apoio de nutricionistas e educadores físicos devidamente capacitados para auxiliar nesse processo.

 

Não podemos deixar de fora o fortalecimento de sistemas de informação, que evidenciam cada vez mais a necessidade do cuidado com a saúde mental, algo que todos nós podemos realizar. Essa é a principal bandeira do SaudeMental.club: informar. Desse modo, podemos promover a saúde mental, esclarecer aquilo que há de obscuro sobre o assunto, e prevenir e tratar quando for necessário.

Literatura recomendada: Novos Andarilhos do Bem – Caminhos do Acompanhamento Terapêutico. Luciana Chaui-Berlinck

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