Um assunto pouco abordado e muito importante para todos nós (e que provavelmente você não tem noção do que é). Posvenção é o trabalho de suporte e assistência que se realiza após uma pessoa ter cometido suicídio, isso é, com aqueles que ficaram.
Existem diversas questões complexas sobre as pessoas, que tiveram alguém próximo, que cometeu suicídio (também conhecidos como sobreviventes). Para garantirmos os devidos cuidados com elas, você aprenderá o que pode ser trabalhado e compreenderá alguns dos sentimentos que podem surgir.
ATENÇÃO: Por ser um tópico delicado, leia ao artigo com toda a atenção necessária.
O pacto de silêncio
Um dos maiores problemas em relação a posvenção é, sem dúvidas, a falta de conhecimento do que fazer diante dessa situação. Existem muitos estigmas, palpites e visões distorcidas a respeito, levando a um dos principais problemas para o cuidado com os sobreviventes. A maioria busca o silêncio e se fecha, como uma espécie de “pacto de silêncio”. Ninguém toca no assunto, finge-se que nada ocorreu. Muitos agem dessa forma para se preservarem de comentários inadequados, e para não encararem a terrível dor que os assolam pelo ocorrido.
Nessa dinâmica de pacto de silêncio, há o perigo do apagamento da história do indivíduo que se foi, levando a história da família a ter buracos em sua narrativa, tudo em prol da ‘preservação’.
As dificuldades dos sobreviventes
Infelizmente, as pessoas acabam tendo, na verdade, uma curiosidade mórbida, que leva a muitos comentários inadequados. Alguns chegam, de forma velada, a culpar parentes e amigos pelo ocorrido, como se eles tivessem cometido um homicídio.
Diante dessa confusão de sentimentos e comentários desconfortáveis, surgem dificuldades por parte dos sobreviventes de conseguirem entender a morte do ente querido. Torna-se uma morte “sem sentido”, diferente de uma pessoa hospitalizada, no qual os médicos avisam que, em breve, a pessoa deve ir a óbito. No suicídio, parece que nada tem lógica, e a falta de apoio de terceiros apenas potencializa essas dificuldades.
Aparecem sentimentos de ambivalência: enquanto existe saudade, afeto e amor pela pessoa que partiu, também surgem sentimentos de raiva, desprezo e vergonha. A vergonha também se manifesta pela situação em si. Os sobreviventes não querem, muitas vezes, trabalharem o assunto, por vergonha do suicídio ter ocorrido em seu meio. Ao mesmo tempo, possuem um forte sentimento de rejeição e abandono. Não conseguem amparo para suas angústias e dúvidas, não somente no âmbito emocional, mas também espiritual.
Muitas pessoas sofrem com os estigmas que são colocadas sobre a família, amigos e pessoas próximas. Existe um forte ‘tabu’ em falar sobre essas questões. O silêncio não é a melhor forma de se trabalhar com as pessoas que tiveram um ente querido morto em um suicídio.
A necessidade do bem cuidar
O trabalho de posvenção também serve, em algum grau, como um trabalho de prevenção, para que outros membros da família não encontrem no suicídio um último recurso para elas.
Disponha-se a ouvir, sem julgamentos. Acolher as pessoas em suas angústias é um bom começo para efetuar um bom trabalho de posvenção. Não é necessário fazer perguntas, mas ouvir com toda a atenção a dor da pessoa. Quando ela se sentir confiante, você poderá orientá-la a buscar a ajuda de um profissional de saúde mental (seja para apenas um bom aconselhamento terapêutico ou, em alguns casos, uma psicoterapia). O luto não é uma doença, mas é diferente o luto causado pelo suicídio – Devemos estar mais atentos para ele não se transformar em um problema na vida da pessoa e na família toda.
Um compromisso com os sobreviventes
Por isso, o trabalho de posvenção é tão necessário. É através dele que podemos manter a memória da pessoa ativa na família. O silêncio não resolverá as questões pendentes, sequer responderá às perguntas que ficam no ar. Somente um bom trabalho de acolhimento e orientação trabalhará essas questões de forma saudável e funcional.
Não tenha medo de abordar o assunto, mas tenha cuidado para não machucar ainda mais as pessoas que já estão sofrendo tanto. Para isso, leia mais artigos do SaudeMental.Club, que poderão te ajudar a entender como escutar as pessoas, como conversar com elas e as melhores maneiras de orientar alguém a procurar ajuda profissional.