Abordar o tema dos transtornos por uso de substâncias definitivamente não é uma tarefa fácil. Primeiramente, trata-se de um assunto permeado por diversos preconceitos e questões sociais. Além disso, existem várias categorias dentro desse conceito. Neste momento, iremos abordar especificamente as substâncias estimulantes, como a cocaína e o crack. Outras categorias englobam as substâncias depressoras e as que perturbam o sistema nervoso central.

 

As definições do que é um transtorno são importantes para não misturarmos os conceitos

Define-se transtorno quando o indivíduo passa a apresentar padrões comportamentais em relação ao uso de substâncias, persistindo no seu consumo, mesmo diante dos evidentes prejuízos causados. Ao abordarmos o uso de substâncias, é importante destacar que o uso indiscriminado de substâncias que provocam alterações neuroquímicas, principalmente durante a juventude, aumenta as chances de desenvolver depressão e aumenta o risco de suicídio. O uso de cocaína e crack, em particular, é extremamente perigoso nesse sentido, uma vez que essas substâncias proporcionam alterações que geram uma intensa sensação de prazer. Vale ressaltar que o crack nada mais é do que a cocaína em forma de pedra, muitas vezes misturada com outras substâncias de qualidade inferior, o que torna seu preço mais acessível e contribui para sua disseminação. Embora nos refiramos apenas à cocaína ao longo do texto, é importante compreender que estamos abordando ambas as substâncias.
Os motivos que levam uma pessoa a iniciar o uso de cocaína podem ser os mais diversos, desde influências do próprio ambiente até curiosidade, presença de psicopatologias e transtornos. No entanto, os principais fatores são os sociais e econômicos, que potencializam o uso, a manutenção e as recaídas. Embora fatores genéticos também existam, eles não possuem tanta intensidade quanto os fatores sociais e econômicos. O reforço positivo da sensação prazerosa gerada pela cocaína pode ser suficiente para criar dependência psicológica logo no primeiro uso. O pico de dopamina resultante do consumo faz com que a pessoa “esqueça” todos os seus desconfortos emocionais e físicos. Essa sensação é tão intensa que pode levar à necessidade constante de doses cada vez maiores para obter um prazer maior.
Com o uso constante, é inevitável que problemas de diversas naturezas surjam. Não pretendemos abordar todos eles neste texto, mas é importante que o leitor busque se aprofundar sobre o assunto. Dependendo das vias de uso (nasal, gastrointestinal, intravenosa ou pulmonar), o consumo de cocaína pode causar diversos efeitos colaterais na pele, no sistema respiratório, renal, gastrointestinal e cardiovascular. O foco deste texto está principalmente nos efeitos no sistema nervoso, que podem propiciar convulsões, anormalidades cerebrais e alterações psicomotoras.

 

Os principais impactos do uso abusivo destes estimulantes 

O uso crônico de cocaína pode levar a graves alterações de humor, crises de pânico e alucinações. Alguns sintomas podem persistir mesmo após a interrupção do uso. Mesmo cientes dessas consequências, muitos usuários não desistem da utilização devido, principalmente, à sensação de prazer, poder e energia que a droga proporciona. Isso faz com que acreditem ser capazes de realizar tudo, trabalhar três vezes mais e conquistar tudo o que desejam. No entanto, como já mencionado, o preço do uso dessa substância é devastador, não apenas para o usuário, mas para toda a sociedade.
A abstinência da cocaína é marcada pelo conhecido “crash”, em que a pessoa entra em um estado de profunda falta de energia e retardo psicomotor, enfrentando dificuldades para realizar tarefas simples. As recaídas ocorrem principalmente em situações desencadeadoras, que lembram a pessoa do uso da substância. Ela está tão condicionada a associar certos estímulos e situações ao uso de cocaína que isso se fixa em sua mente, e quando esses elementos estão presentes, ela automaticamente busca o consumo.

 

É dever da sociedade oferecer as chances de reabilitação, mas é dever do indivíduo ser protagonista no processo

Existem diversos tratamentos disponíveis no contexto da dependência de cocaína. Além do uso de substâncias menos nocivas, a farmacoterapia é utilizada para tratar as comorbidades desenvolvidas. No âmbito da psicologia, a abordagem cognitivo-comportamental tem apresentado resultados promissores ao ensinar o indivíduo a identificar os fatores de risco e crenças que estimulam o uso da cocaína, colocando-o como protagonista de sua própria recuperação.
A procura por ajuda é essencial. Reconhecendo que alguém próximo está passando por este tipo de dificuldade ou você mesmo, lembre-se da existência do CAPS AD, o Centro de Apoio Psicossocial – Álcool e Drogas, que tem como principal finalidade o acolhimento de pessoas que sofrem com transtornos por uso de substâncias. Tratar-se não é somente um ato de amor para consigo mesmo, mas também para todas as pessoas ao redor e para toda a sociedade. Qualidade de vida pode ser conquistada sem o abuso de substâncias. Discussões de ordem social a respeito das razões contemporâneas que levam as pessoas a usarem substâncias como a cocaína, no intuito de produzir mais, podem ser encontradas no “Ágora”, o nosso editorial de discussões e reflexões.

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