Nesta edição, o autor do livro “Feiticeiros, bruxas e possessos” e primo do padre Quevedo se dedica a esclarecer e orientar alguns leitores que relatam experiências com a morte de terceiros que vieram a se confirmar pouco depois.
— “Estando no Paraná, uma noite vi em sonhos o tio de minha mulher, que tinha sido meu representante em Portugal na cerimônia do meu casamento por delegação de poderes. Eu nunca o havia visto, conhecendo-o apenas pelo retrato. No meu sonho, me vi a mim mesmo (e a minha mulher) segurando seu caixão, que levávamos até a sepultura. Acordei angustiado… Dias após, recebemos carta de Lisboa: o tio Mário, aquele que vi em sonhos, havia falecido exatamente na mesma hora em que sonhei com ele…” (Luiz T. G. — Lisboa).
— “Poucos meses após o nascimento de minha filhinha, uma noite tive um horrível pesadelo: uma mulher, com rosto de caveira, trajando um vestido longo e preto, dizia-me: ‘sou a morte e venho levar tua filha’. Apavorada, comecei a rezar desesperadamente. A mulher deu uma longa gargalhada e me disse: ‘de qualquer forma vou levar alguém’. Acordei joelhada na cama. Não sei se será casualidade, mas uma coruja gritava junto à minha janela… No dia seguinte, um telefonema nos punha ao par da morte de tio Jorge…” (Maria M. Lima).
— “Minha amiga Alice V, C. perdeu sua mãe o dia 28 de abril. Poucos dias após, dormindo, a morte lhe apareceu em um sonho; tinha na mão uma pequena lata e nela colocou três pedrinhas, enquanto lhe dizia que quando se cumprissem três meses de sua morte, outro membro da família faleceria. Como todos estavam bem de saúde, Alice pensou logo em seu pai, que era o mais velho de todos… Aos três meses exatos, i.e., a 28 de julho, morreu Nivardo, com 20 meses de idade, neto da defunta. Vale destacar que o menino estava perfeitamente sadio quando Alice teve o sonho, ficara doente uma semana antes de morrer”. (Walton M., Guanabara).
— “Uma de minhas primeiras lembranças de infância é um pesadelo: vi um tio num caixão, envolto em uma bandeira. Acordei chorando aflita… No dia seguinte, chegou em casa um telegrama: meu tio havia falecido e seu corpo chegava no avião, envolto em uma bandeira, pois sua morte foi em serviço…
Nos sonhos, onde nossa consciência se encontra em repouso, os ecos de um universo parapsicológico ressoam, revelando mensagens que transcendem o entendimento comum e nos conectam de maneiras inesperadas com o tecido do destino.
Com dez anos de idade sonhei com um menino que entrava pela minha janela, envolvido por uma luz muito forte, dizia-me que levaria meu pai, mas que não sofresse. Fiquei muito impressionada, e desde então, quase não me separava de papai… que faleceu um mês mais tarde. Em outra ocasião, também dormindo, vi uma amiga, de luto, chorando. Foi um choque tão forte que decidi chamá-la: seu pai tinha morrido…
O dia em que assassinaram Kennedy, acordei com uma palava martelando insistentemente em minha cabeça: MURDER!…” (Clementina H. — Lima).
Temos, pois, sete casos diferentes, enviados por quatro leitores, todos eles com algumas características comuns e significativas: de uma ou outra forma todos envolvem avisos de falecimentos… e todos eles aconteceram quando o receptor da “mensagem” estava dormindo.
Este último detalhe, principalmente, é sintomático: sabemos bem que a manifestação de fenômenos parapsicológicos é dirigida pelo nosso psiquismo inconsciente; em outras palavras, um estado maior ou menor de inconsciência é requisito indispensável para o surgimento de um fenômeno deste tipo. E o sono, obviamente, é a mais natural, a mais frequente modalidade de inconsciência; isto faz com que seja justamente tal estado a fonte mais frequente de fenomenologia parapsicológica, concretamente fenômenos de efeitos psíquicos, i.e., de conhecimento. Podemos afirmar, sem medo de errar, que de cada cem casos deste tipo, pelo menos noventa aconteceram em sonhos. Sem entrar num exame detalhado dos sete casos narrados, podemos dizer que todos eles encerram manifestações extrasensoriais: as faculdades que explicam os diferentes acontecimentos, cabem, todas elas, na classificação geral psi-gamma:
O primeiro, segundo, quarto e sexto casos são exemplos evidentes de Sugestão Telepática (ST), sem duvida a faculdade de mais frequente manifestação entre as extrasensoriais. — O Dr. Jules Bois, deu-nos o critério para classificar um caso como de ST: em todos eles deve ser possível detectar telebulia, i.é., um desejo interpretativo, inclusive inconsciente, de comunicar uma notícia a alguém. Não é por acaso que a quase totalidade dos casos refere-se a familiares ou amigos muito queridos: a emotividade do acontecimento chama especialmente a atenção do receptor da notícia, facilitando a manifestação do fenômeno, Além do mais, como é lógico, o pensamento do moribundo ou dos presentes, dirige-se com frequência aos seres queridos do protagonista do acontecimento… e não é difícil compreender que, entre as muitas in formações que constantemente se captam por psi-gamma, serão mais importantes, mais emotivas, chamarão mais a atenção aquelas que se referem diretamente ao dotado. Estas circunstâncias, unidas às já mencionadas de estar num estado de inconsciência (sono), por si mesmas explicam a maior frequência de acontecimentos deste tipo, em situações fundamentalmente idênticas às que vimos aqui.
Na quietude do sono, onde o consciente descansa, nosso psiquismo inconsciente tece conexões profundas através da telepatia, revelando que, em momentos de grande emotividade, as barreiras da distância e do tempo se desfazem, permitindo que mensagens de importância singular encontrem caminho até nós, evidenciando a intrincada tapeçaria de conexões que unem as experiências humanas.
Evidentemente, todos conhecemos a forma “sui generis” que o inconsciente tem de apresentar suas manifestações, sempre dramatizadas, revestidas, “encenadas”. A esta característica do comportamento inconsciente chamamos de prosopopéia. Este comportamento é bem familiar para todos os leitores: quando sonhamos, nem sempre é fácil ou possível desentranhar o simbolismo frequentemente emaranhado apresentado pelo inconsciente.
O segundo dos casos narrados é um claro exemplo do que nós falamos: a mulher vestida de preto, representando a morte, obviamente não é um ser real e sim uma personificação ou “encenação” do psiquismo inconsciente. Também é curiosa a alusão à coruja gritando na janela: sem dúvida não é casual, como mostra o fato de nossa comunicante tê-lo citado expressamente; para ela, esse ser noturno, habitante das trevas, tem certa relação (possivelmente só inconsciente) com o misterioso, o macabro, a morte… É bem provável que o grito da coruja, ouvido enquanto sonhava, fosse o ponto de partida, o estímulo recebido pelo inconsciente, que por associação de idéias facilitou a manifestação do fenômeno. E o fato de que a dramatização começasse pela ameaça de morte da filhinha é fácil de explicar: Sabemos que não é fácil a manifestação de fenômenos parapsicológicos; nem sempre pode se conseguir que a informação “abra a porta de passagem” do inconsciente para o consciente. Porém, é mais fácil quanto for mais “chocante”, quanto for mais emotiva; num primeiro momento, a difusa informação envolvendo a palavra morte, associou-se a algo mais terrível e emotivo: a filhinha de poucos meses. Uma vez quebrado o obstáculo que impedia a filtração normal da notícia, o inconsciente conseguiu apresentar a notícia mais completa (1).
Nos confins misteriosos entre a precognição e a telepatia, histórias de premonições e anúncios de partidas futuras, narradas por vozes do além, reafirmam a complexidade do tecido emocional que nos une, desafiando nossa compreensão do tempo e da conexão humana.
Dentre os casos aqui citados, o terceiro e o quinto são claramente precognitivos, i.e., de conhecimento do futuro. O primeiro deles, aliás, de um tipo muito curioso: “o morto” anuncia o próximo falecimento. É um caso bem típico, mas obviamente exige circunstâncias especiais que possibilitem essa modalidade de dramatização; por exemplo, como acontece aqui, uma família na qual dois membros da mesma falecem separados por um curto intervalo de tempo (embora seja evidente que o conceito “pouco tempo” é algo muito elástico, que está principalmente ligado à emotividade do receptor: não é difícil encontrar pessoas para as quais o correr dos anos pouco significa como apagador da memória do falecimento de um ente muito querido). Em épocas de guerra, por exemplo, não é difícil conseguir coleções relativamente numerosas destes casos. Sem dúvida, a notícia da morte próxima de um ser querido, encerra uma emotividade pouco comum. Se acrescentarmos a esta circunstância a facilidade já mencionada de estar dormindo o receptor e, todavia, o choque emocional remanescente como consequência da morte anterior, o fenômeno conta com os melhores precedentes para manifestar-se… e a dramatização, como se fosse anunciada pelo próprio morto, é facilmente compreensível por associação de idéias. (2)
O último dos casos, pelo menos à primeira vista, não é facilmente classificável como telepático. Parece mais lógico pensar em clarividência… e até seria possível arriscar a hipótese de clarividência sobre as manchetes de algum jornal americano, precisamente pela comunicação tão curta e o idioma usado: MURDER! (ASSASSINATO!).
Referências
(1) Cfr. O subtítulo “Aparições por procuração” em “A face oculta da mente”, Quevedo, O.G.,; Ed. Lotola, São Paulo, 23ª edição, 1974, págs. 363-364.
(2) Nosso comunicante, Sr. Walton M., teve a gentileza de documentar seu relatório, com dois atestados de óbito, que mostram os três meses justos entre ambos falecimentos.