Abordar de forma diretiva a Saúde Mental e Emocional das crianças não é tarefa fácil. Sempre nos esbarramos na ideia de “culpa”. Mas afinal, de quem é a culpa? Da criança ou dos pais?

O primeiro passo é entender que não existe culpado. Isso porque a maioria dos pais e responsáveis não tem noção alguma de como determinadas coisas funcionam no mundo infantil. Por isso, não se fala de culpa quando não existe acesso à informação e orientação devida. Porém, quando existe a devida orientação e a informação é de conhecimento de todos, e ainda assim, deliberadamente, se opta por não fazer o que é o mais adequado para a saúde da criança — seja a fisiológica e/ou emocional – nesse caso, pode-se e deve-se imputar a culpa nos pais e responsáveis.

Produzimos este artigo com orientações aos pais e responsáveis, para terem as melhores orientações e dicas comportamentais. Assim, poderão passar por essa etapa do desenvolvimento humano da forma mais saudável possível.

 

Diagnósticos na infância

A infância compreende o período do nascimento até os 12 anos. Quando falamos de psicopatologias na infância, aproximadamente 10% de crianças possuem algum tipo de transtorno de fato. Em diversos desses casos, fatores ambientais como a família, criação, etc, tem forte impacto no diagnóstico, tanto quanto os fatores genéticos.

Dentre os transtornos mais encontrados em crianças, temos o famoso TDAH (Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade), depressão, transtornos de ansiedade, transtorno por uso de substâncias e transtorno de conduta.

 

Cuidar da mente e das emoções também é coisa de criança. Será?

Quando falamos de saúde mental infantil e do cuidado com as suas emoções, corremos sempre o risco de estigmatizarmos a criança, colocando todo o peso nas suas costas.

Para os profissionais que trabalham com o público infantil, é de conhecimento que existe uma forte tendência a ‘patologização’ da infância, atribuindo características normais e esperadas deste período a alguma “doença” que precisa ser tratada, pois atrapalha de alguma forma a dinâmica de algum sistema, seja o familiar, trabalho ou escolar.

Por esse motivo, devemos ter muita atenção quando trabalhamos com crianças e observamos seus comportamentos, para não arriscarmos transformar em “doença”, aquilo que é próprio da fase infantil. 

 

Observar, compreender e cuidar

Um dos pontos mais importantes é sem dúvida o ambiente. Qual é o ambiente que essa criança está inserida e quais são as principais referências de comportamento que essa criança possui?

Crianças aprendem majoritariamente por imitação. Pedir para uma criança que tenha comportamento X, sendo que ela vive recebendo estímulos de comportamento Y, é querer forçar a realidade. Quantos pais e responsáveis não são um bom exemplo de organização e controle emocional, mas exigem isso de seus filhos?

 

Seja o exemplo

O controle emocional e organizacional são coisas esperadas de adultos, mas não de crianças. Entretanto, somos pouco tolerantes com as crianças em seu desenvolvimento e absurdamente tolerantes com os adultos imaturos.

Se você quer que seu filho tenha um comportamento X, você precisará ser exemplo para ele e ficar atento as influências que essa criança pode receber. Avaliar o ambiente em que ela mais convive é crucial para entender os comportamentos que ela possui, e, consequentemente, entender quais são os problemas que essa criança está desenvolvendo devido ao ambiente.

 

Ajude a criança em seu desenvolvimento

O segundo ponto para trabalhar a saúde mental infantil é considerar que crianças não são sub-humanos. Elas são seres humanos em uma determinada etapa de desenvolvimento, como qualquer outro ser humano. A tendência de considerar a criança como um sub-humano leva a considerar que determinadas atitudes sejam válidas para os cuidados delas, como, por exemplo, gritar com ela.

Compreender a etapa de desenvolvimento que a criança se encontra ajuda muito a entender quais são seus pontos fortes e os fracos. Desse modo, o adulto deverá estimular os pontos fortes desta etapa e, junto da criança, criar estratégias para que os pontos fracos sejam compensados da melhor forma, sem que isso tire da criança a autonomia de que ela pode viver a sua vida.

O adulto deve ser como um suporte. Como diria Donald Winnicott (pediatra e psicanalista), um holding: a pessoa que fornece para a criança as condições emocionais e empáticas ideais para que ela possa se desenvolver com a devida segurança. 

 

Estude!

Para finalizar, lembre-se que é necessário ter acesso a informação. Portais como o SaudeMental.club existem para que você estude sobre saúde mental e emocional. Sem a devida informação, corremos o sério risco de negligenciarmos psicopatologias (transtornos mentais) que podem existir, e de acreditar que elas existem onde, na verdade, elas não estão presentes.

Os fatores genéticos têm seu peso. Conhecer o histórico da família para saber as possibilidades de transtornos somado ao ambiente é crucial para a devida prevenção. Saber também o que é próprio ou não do desenvolvimento da criança é importante para que os envolvidos reconheçam qual comportamento está fora do que é esperado de uma criança saudável.

É importante identificar comportamentos que podem surgir a partir de algum tipo de violência que a criança tenha sofrido. Conhecer o desenvolvimento infantil e suas nuances é crucial para os bons cuidados da saúde mental das crianças.

 

O tripé

Os três pontos apresentados são como um tripé: retirar um deles é ruir todo o processo que precisa ser realizado para promovermos a saúde mental para as crianças.

Não podemos negligenciar em nenhum desses três pontos. E devemos começar pelo cuidado da nossa própria saúde mental. Para esse outro processo, você pode encontrar outros artigos para se educar e desenvolver comportamentos mais saudáveis. Não deixe de conferir nossos conteúdos!

 

Referências:
DELUCA, Victoria et al . A presença de sintomas psicopatológicos em crianças e responsáveis que procuram psicoterapia infantil. Aletheia,  Canoas ,  v. 51, n. 1-2, p. 68-79, dez.  2018 .   Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-03942018000100007&lng=pt&nrm=iso>. acessos em  23  set.  2022.
THIENGO, D. L.; CAVALCANTE, M. T.; LOVISI, G. M. Prevalência de transtornos mentais entre crianças e adolescentes e fatores associados: uma revisão sistemática. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, v. 63, n. 4, p. 360–372, dez. 2014.

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